sexta-feira, 11 de maio de 2012

Gonçalo M. Tavares (3)



«Vamos desenhar uma casa errada?!»

                Numa conversa animada e muito estimulante a propósito da leitura e da escrita, que muito interesse despertou por parte de todos os participantes, o escritor português Gonçalo M. Tavares partilhou com o auditório a sua conceção muito própria sobre a importância dos atos de LER e de ESCREVER.
                A partir de um exercício de reprodução icónica daquilo que para cada um poderia ser considerado como «a sua casa errada», ficou claro o poder subversivo da Arte/ Leitura/Escrita: apesar de condicionada por modelos e padrões que pautam o nosso conhecimento da realidade (normal), a representação final do que é uma “casa errada” traduziu-se na criação de imagens únicas, diversas, que “desarrumaram” totalmente aqueles modelos iniciais e remeteram para uma outra ”realidade” do domínio da criatividade, da fantasia, do não-real.
                Da mesma forma que esta imagem pictórica da “casa errada” nos introduz na dimensão do (ir) real, também a leitura e a escrita devem assentar na revelação / construção de imagens e de redes de sentido que revolucionem, de forma criativa, os códigos instituídos, para proporcionar novas leituras e novas formas de representação da realidade, sem moralismos declarados.
                Nesta perspetiva assumida por Gonçalo M. Tavares, a Escrita e a Leitura estão em interação contínua - a escrita dificilmente subsiste sem a leitura; a leitura sem a escrita não tem fundamento: o bom escritor tem de ler o que os outros escreveram, para se distanciar deles e não os repetir. O autor deve ser capaz de se distanciar da leitura de que as suas obras são objeto, para não se deixar afetar por ela. É nesta tensão permanente entre o poder da escrita e a influência da leitura que se afirma a eficácia da criação literária / artística na procura do que é único, diferente, capaz de subverter o que já está instituído, sem, contudo, abdicar da sua intencionalidade comunicativa.
 Experimentemos desenhar a «nossa casa errada».


professora Teresa Lucas

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