Há livros assim



"O desejo de ser outro, diferente daquilo que somos: não pode arder um desejo mais doloroso no coração humano. Porque não é possível suportar a vida de outra maneira, apenas sabendo que nos conformamos com aquilo que significamos para nós próprios e para o mundo."

Há livros assim...

Ofereceu-mo uma amiga, devorei-o de um trago, e logo o ofereci a outra amiga. Não o meu, mas outro exemplar que comprei na livraria do bairro. O meu, li-o com tanto prazer de alma que ainda permanece à minha cabeceira, convivendo harmoniosamente com outros objectos de culto que me embalam as noites e enchem de esperança as manhãs. É curioso, a amiga que mo ofereceu ainda não o tinha lido, escolheu-o por intuição. A amiga a quem eu o ofereci, como quem partilha um doce conventual, achou-o triste e deprimente, considerando-o apenas um livro muito bem escrito. As palavras que habitam os livros são assim, um pouco como as pessoas, não agradam a todos. Tudo depende do modo como as acolhemos, como as interpretamos e como entramos no jogo dos espelhos em que elas nos lançam, sempre que nelas nos reflectimos. Ora, o que é fantástico neste livro é que, ao lê-lo, eu senti-me parte dessas palavras, como se vivesse um pouco dentro delas, em comunhão de afectos, de sentimentos e de emoções. Sentia cada uma delas como um elogio a esse sentimento luminoso, que, por felicidade, desde cedo descobri e sempre me tem guiado: a Amizade. Por isso, se me pedissem para resumir a história deste livro, eu diria apenas que se trata do reencontro entre dois velhos amigos afastados pelos suspeitos desígnios de Eros que só a força de Ágape pode vencer. Porque há mágoas que só o tempo pode sarar...

professora Manuela Martins
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A obra de Sándor Márai está disponível na biblioteca.

Comentários

  1. Para mim - que o li também numa penada - o livro revela uma outra vivência da Amizade. Muito bom.
    Saudações a todos,
    Luís Vilela.

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