Avançar para o conteúdo principal

João Lobo Antunes [1944-2016]


Cota: 174-ANT


A ética, que nos ajuda a esforçar-nos por viver a vida boa de Aristóteles e Ricouer, está presente em todos e cada um dos ensaios aqui reunidos e é tratada sob a mais nobre das formas de a encarar, que é a do debate baseado na escuta exigente na fundamentação lógica dos argumentos, almejando  a razoabilidade, e informado pelo respeito pelas convicções e razões dos que pensam diferentemente. Mesmo que se não concorde com João Lobo Antunes (e algumas vezes tal acontece, felizmente, comigo), não se pode deixar de  saudar este formidável argumentador, este expositor sério e comprometido de valores e virtudes, renitente a aceitar princípios esquematizantes e só aparentemente orientadores da atitude certa e do procedimento correto. A sua experiência como médico, a observação aguda da complexidade emocional-racional do ser humano, particularmente quando se declara ou assume como doente, conduzem-no por vezes a confessar-se incapaz de optar em situações dilemáticas e angustiantes, aquelas situações de vida ou morte em que só a recta intenção e a consciência sondada até ao âmago podem servir de decisor.
Por outro lado, este é um livro autobiográfico, na medida em que não só são relatadas situações vividas como se patenteia, nu ou descarnado, o homem, sem nunca se ofender o natural pudor de quem recusa qualquer exibição.

Carece-me autoridade para emitir juízos acerca da qualidade literária destes escritos. Como leitor crónico, dependente de livros, posso todavia dizer que é raro encontrar quem alie, como o Autor, a elegância formal a uma análise rigorosa, a riqueza das metáforas e imagens a uma enxuta e cristalina exposição de teses. Não é, certamente, deslustre para a ínclita geração dos Lobo Antunes, que conta entre os seus representantes três médicos escritores, este opus admirável. Basta ler a «História de um Velho» para se concluir que este realista, compassivo e rigoroso retrato da decadência orgânica e da coragem fiel do ocaso de uma vida garante uma duradoura presença na grande prosa portuguesa. 

Walter Osswald (*), in Prefácio

Outras obras de João Lobo Antunes disponíveis na biblioteca: Aqui e Aqui.


_____________________________________
(*) Professor aposentado da Faculdade de Medicina do Porto; Presidente da Comissão de Ética da Universidade do Porto; Conselheiro do Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa; Detentor da Cátedra de Ética da Universidade do Porto.





Comentários

Mensagens populares deste blogue

Ebook gratuito: «Esteiros» de Soeiro Pereira Gomes

A biblioteca escolar disponibiliza mais um título gratuito na sua Biblioteca Digital. Podes encontrar mais títulos aqui . Título : Esteiros Autor : Soeiro Pereira Gomes Edição : Agrupamento de Escolas Leal da Câmara Revisão e diagramação : Carlos Pinheiro Coleção : Clássicos da Literatura 1.ª edição : janeiro de 2020 Imagem da capa : Angelina Pereira Edição segundo as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, com base na edição de 1941 (Edições Sirius). Ebook em PDF Ebook em ePub  «Esteiros, minúsculos canais, como dedos de mão espalmada, abertos na margem do Tejo. Dedos das mãos avaras dos telhais que roubam nateiro às águas e vigores à malta. Mãos de lama que só o rio afaga.»

Exposição: As plantas na obra poética de Luís Vaz de Camões

 

8Dias

Passar das marcas? Acusar? Manipular? E se... Jornal i, 01 de Maio de 2010 Esta semana o 8Dias traz-vos mais um problema. Um dilema. Vamos a factos: recentemente foi retirado do Youtube um vídeo da cantora londrina M.I.A. que acompanha a sua recente canção Born Free , pela acusação de ser muito violento. O vídeo parece uma grande produção cinematográfica (ainda que contida em aproximadamente 9 minutos), onde se desenvolve a acção violenta de uma força de elite apostada em erradicar indivíduos cuja característica distintiva é serem ruivos. Para além de todos os dados (relevantes ou não) que gravitam em torno deste episódio - a questão que aqui se gostaria de propor é: será arte ou provocação gratuita a exibição de violência ou pornografia? Seja num teledisco, quadro ou novela. O contexto que proponho para analisar esta questão é o da liberdade de expressão e de pensamento, mas também o da mais simples intenção humana de manipular em vez de persuadir. E se for mais um aceno interpelador...