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Clube Manga (2)



ANIME E REALIDADE

O que distingue o anime, animação de origem japonesa, de outro tipo de animação?

A expressividade dos seus personagens representada através dos seus olhos: grandes, muito bem definidos e cheios de brilho. O resto da face e do corpo caracteriza-se por nariz pequeno, cabelos longos e corpo esguio. As figuras tendem a constituir uma caricatura ou estereótipo: ora perfeitas e equilibradas, ora apresentando características peculiares (por exemplo a deformação das feições) levadas ao extremo. Os cenários são muitas vezes dispensados. A estética manga caracteriza-se ainda pela simplicidade e espontaneidade do traço, geralmente a preto e branco, feito a tinta nanquim, mais conhecida como tinta-da-china.

A profundidade da mente dos seus personagens expressa pelo olhar, pela linguagem gestual e corporal, pelo movimento e pelo contraste de luz e sombra. Nos filmes de anime os efeitos sonoros que indicam a chuva ou o vento intensificam a sensação de silêncio, reforçando a interioridade dos personagens. As músicas de abertura (opening) destes filmes sublinham também esta dimensão complexa da mente humana. O enredo do anime é geralmente cheio de detalhes e profundidade e os seus personagens pensam mais do que falam e vão evoluindo ao longo da história: nascem, crescem, casam-se e morrem. Todos estes aspetos combinados permitem ao leitor sentir o que os personagens destas histórias realmente sentem e é por isso que o anime japonês representa melhor o ser humano que o comics ocidental.

O espírito japonês é de conformismo, disciplina, sacrifício e uma certa rigidez e, mesmo, conservadorismo moral. A cultura japonesa marcada por rituais como os da cerimónia do chá, do tirar dos sapatos ao entrar em casa, do uso de uniforme de marinheiro por parte das jovens em idade escolar, da hierarquia familiar que toma o pai como o chefe de família, dos quimonos trajados por homens e mulheres em cerimónias tradicionais, a procura de templos para, através da oração e da entrega de um bem valioso (uma moeda, um anel…), formular um desejo…
Dependendo da história do anime, questões sociais, como o bullying, o tédio e a rotina, a dificuldade de relacionamento social e adaptação à realidade - os indivíduos que não fazem nada na vida (neet) ou os que ficam fechados em casa (hikikomori), os otakus (leitores fanáticos de manga que se isolam) ou os heróis. Existem diferentes tipos de heróis e cada um deles dá origem a um subgénero diferente de anime. Os heróis mais populares são: os que lutam e participam em competições desportivas servindo-se de artes mágicas ou de tecnologias – shônen (garotos); os que buscam o amor (sobretudo dirigidos a um público feminino) – shõjo (raparigas) e os que usam fetiches e encaram com grande naturalidade a sensualidade e o sexo como forma de compensar a elevada exigência da vida pessoal e profissional – hentai.
Pelas razões apontadas é tentador para o espetador de anime transformar-se nos seus personagens favoritos. O cosplay com as suas lojas, apresentações, concursos e sessões de fotografias corresponde a esta recriação de um avatar.
Através do anime o espetador adquire uma consciência de si próprio, dos outros e do modo de funcionamento do mundo exterior que de outra forma não teria, pelo que aquele que aos olhos dos outros parece ser um mundo fantasioso transforma-se afinal na sua própria vida e realidade.

E, afinal, o que é a realidade física, as coisas materiais, se não a mera experiência que dela temos? Se elas existem independentemente do sujeito que as apreende nunca o poderemos provar. O que habitualmente percebemos de modo direto não passa de uma mera aparência. Resta-nos sempre a dúvida de que talvez não exista nada. E como provar o contrário?

Clube Manga: Daniela Fernandes, Kathy Seibert, Luís Cerqueira, Luís Basto, Ricardo Santana e professora Liliana Silva


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