quarta-feira, 26 de maio de 2010

8Dias


Foram muitos os contributos dos nossos leitores que procuraram analisar criticamente o desafio que se propôs. Assim, enquanto autor do 8Dias, impus-me a tarefa de fazer uma síntese das posições manifestadas. Espero estar à altura de tão rica discussão. Certo é que o ponto de partida encerra uma provocação. Um incitamento a que nos pronunciemos face à riqueza expressiva da arte ou do pensamento livre. E muitas foram as posições assumidas na caixa de comentários.
Na generalidade, as posições manifestadas podem ser reunidas em três grupos. Por um lado, talvez seja a posição mais comum, defende-se que a arte pode ser o espelho do que se passa no mundo – e a violência e a pornografia estão nele –, sendo que a interpretação e assimilação dessa expressão artística depende daquele que dela desfruta. Assim, a arte pode expressar um protesto (político ou outro) face a um determinado assunto, sensibilizar e combater a indiferença face ao que se passa algures.
Outro grupo de opiniões menos representada sustenta-se na ideia de que a liberdade de expressão não deve pactuar com a expressão tão directa da violência ou da pornografia. Pelo que faz todo o sentido retirar o vídeo do acesso público.
Por fim, há uma posição algo ambígua, que “arruma” as diferentes expressões artísticas no domínio da ficção. Como se essa caracterização tornasse o seu conteúdo neutro ou sem impacto no domínio público.
Em conclusão, estas posições representam muita da discussão que se faz em torno do “discurso da arte”, sejam as teses filosóficas da arte como imitação (da beleza) ou da expressão (sentimental ou ideológica). Para além dessas caracterizações, a natureza dilemática do triângulo liberdade/escola/cultura permanece. Em particular, a tensão que no vértice escola se faz sentir para inviabilizar uma aprendizagem e uma prática de análise racional de ideias extremas e controversas. Uma coisa é certa, se a escola não puder preparar os futuros cidadãos para essa prática da crítica racional e livre, então continuará a ser possível “censurar” conteúdos no espaço público sob a justificação de conteúdos excessivos. Mas é preciso que estes futuros cidadãos se dediquem a preparar, ao longo do seu percurso escolar, um fundo de conhecimento e criatividade que lhes permita usufruir de uma experiência estética com sentido e profundidade. Se assim não for, estaremos todos a contribuir para a escolha e filtragem do discurso público.

Termino, deixando mais uma referência problemática. O que dizem relativamente a Erykah Badu e ao seu último vídeo? Enquadra-se nesta problemática? Ou associar nudez ao local da morte de Kennedy é arte? Dilemas.

9 comentários:

  1. Boas,

    Depois de ter visto os vários comentários, parto da mesma ideia que a da equipa do be, cada individuo é unico como é obvio e logo ai se transmite que cada um assimila a arte da sua maneira, aspecto e visões. Acho que ano após ano, o conceito escola relacionado com aprendizagem do nosso país tem vindo a desmoronar-se com baixo intelecto, ou seja a escola só ensina plástico para criança se entreter, tornando-se num robot. Na minha opiniao trata-se de manipulaçoes politicas, bem como a dependencia dos docentes em planos curriculares e entre outras coisas, por isso em certo aspecto concordo com uma avaliaçao. Mas como é obvio o problema começa no cidadão em si.

    “Quem representa inventa, trouxe novidades à cena. Há nomes que vêm à cabeça, confronta-te um dilema.”

    Gostei do video, estranho, é complicado de perceber, mas a que tentar, se nos tentar-mos sobresair na sociadade, pensando de forma diferente com uma mentalidade aberta somos “esmagados” pela sociadade, porque temos que ser todos uns robots? Esta foi a minha visao da arte se estiver errada a mensagem que o video me transmitio espero que deixem um comentario

    André,

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  2. André,
    Evitar a manipulação (seja política ou outra) comporta - pelo menos - aceitar três pressupostos: rejeição da violência, liberdade intelectual e informação igualmente livre. Se estes pressupostos se aliarem à vontade de aprender, de desenvolver com criatividade e inteligência soluções para os problemas, então, podemos assistir a mudanças sociais importantes.
    Ambos os vídeos procuram enunciar uma visão preconceituosa. Seja ela do poder, dos guardiães da história ou do comum dos cidadãos. Para que possamos TODOS colocar as nossas opiniões sob análise racional e livre de preconceitos. Não que a discussão acabe, mas que as diferenças sejam valorizadas e respeitadas numa sociedade repleta de tensões e tabús.
    Saudações a todos,
    Luís Vilela.

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  3. Boas Tardes,

    Pões bem Luís nunca tinha pensado nesses 3 aspectos, para evitar a manipulação. Mas não é necessário tanto basta ter o bom senso, saber do que se trata a informação\noticias ponderando os vários aspectos da "coisa", um exemplo bem recente do Magalhães(que afinal não era para entreter as crianças ou para o seu apoio académico). Mas temos que ser razoáveis e racionais manipulação é algo que haverá sempre em qualquer instituição,Pais, porque existirá sempre alguém acima que estará a ganhar, são movimentados milhões, entre outras coisas. Que são um bola de mão, trata-se de um ciclo vicioso.

    André Sousa

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  4. Ambos os videos, o born free e o da Erykah Badu relatam problemas presentes na nossa sociedade, mesmo com o passar dos anos, os problemas permanecem pois ainda vivemos numca sociedade aristocrata, ou seja a sociedade onde vivemos é dominada pelos valores aceites por uma maioria manipulando os restantes. Basicamente o que o video da Erykah nos transmite é a rejeição ou mesmo a condenação de um acto livre e espontâneo de um individuo membro de uma sociedade democrata. Uma situação um tanto caricata, uma vez que somos todos livres tendo assim direito de nos exprimir sem condenação física, moral e psicologica, uma vez que já nascemos livres. Mas como vivemos com regras há que compri-las ou estaremos sujeitos a punições, que foi o que aconteceu com a Erikah.
    Vânia Vicente

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  5. No meu caso, eu já tinha conhecimento deste vídeo e já o tinha visto em várias fontes como assunto de crítica.

    Como já referi no primeiro post desta polémica a Arte é uma actividade humana ligada a manifestações de ordem estética, com o objectivo de estimular os espectadores, dando um significado único e diferente para cada obra de arte. E apesar de ser sempre um choque ao ver este tipo de vídeos pelo menos à primeira vista, talvez pelo facto de ser algo novo ou talvez pelo facto de ninguém pensar que alguém seja capaz de cometer esta ousadia, não nos podemos desviar do assunto fulcral deste post que é que ambos os vídeos relatam problemas presentes na nossa sociedade que se tentarmos colocar-nos numa perspectiva racional e crítica havemos de perceber que são apenas vídeos que demonstraram problemas socais que acontecem constantemente no nosso mundo, contudo de uma forma diferente, talvez para que estes tais problemas se “façam ouvir” e já que não resulta da maneira tradicional, acho que devemos utilizar métodos mais apelativos, como estes vídeos (primeiro da M.I.A e depois da Erykah Badu) que foram duas cantoras que não tiveram vergonha nem timidez de mostrar o que realmente se passa pelo mundo fora. Por exemplo neste caso podemos ver no final do vídeo, Badu encenou o assassinato do presidente americano John F. Kennedy, sofrendo um tiro mortal na cabeça em Dealy Plaza, Dallas, no Texas.

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  6. Oh, Erykah Badu é conhecida não só por ser uma óptima artista mas também por ter fortes opiniões. E este vídeo é a prova disso. Sempre pensei que neste video as pessoas fossem figurantes, só depois de ter pesquisado um bocado é que percebi que foi gravado num só take e as pessoas que estavam lá não eram figurantes!!(por isso teve que pagar uma multa)
    Penso que este vídeo está cheio de mensagens, primeiro pelo o local (o lugar da morte de JFK), depois pela palavra tatuada nas costas ("EVOLVING") e por fim o sangue que é derramado forma a palavra "Groupthink".
    Mais uma artista a quer fazer-se ouvir, pergunto-me quem será o próximo!!

    Cláudia Silva

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  7. Mas afinal, qual é o conceito de liberdade?
    M.I.A fez aquele vídeo, que mostra uma outra realidade do mundo que estamos habituados a ver, em que vivemos. Foi tão chocante que até tiveram que tirar o vídeo do youtube !
    Eykah Badu fez um vídeo em que se despia, e o que acontece no final? Leva um tiro. Porque? Porque não nos podemos expressar? Afinal não somos livres?
    Não, na minha opinião não somos livres. Porque, se em Portugal me apetecesse andar nua na rua, era criticada, possivelmente a policia vinha ter comigo e pagava uma multa. As pessoas não estão abertas a novas experiencias, alargar os horizontes.
    Por exemplo se repararmos, ao longo do vídeo no inicio ninguém olhava para ela, era uma coisa normal, ao longo que ela se ia despido as pessoas iam ficar mais admiradas e então quando ela se despiu completamente as pessoas ficaram chocadas!
    Pois é, admiro estas pessoas por terem coragem de demonstrar aquilo que sentem e a opinião que defendem. Afinal, hoje em dia quem faz isso pode ser considerar "maluco"
    Joana Aranda

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  8. Na minha opinião, acho que este vídeo só demonstra que a mente humana não é assim tão aberta quanto o dizem.
    Sou sincera, não tinha conhecimento desta artista, quando comecei a ver o vídeo gostei imenso da voz que estava a ouvir, o problema foi quando me apercebi que ela estava a despir-se completamente, aí nesse momento pensei: "Mas ela está maluca? Mas que raio de artista!". Mas voltei a repensar, e logo apercebi-me o quão preconceituosa estava a ser, não é por ela se despir num vídeo que não seja uma óptima artista. É apenas a sua maneira de se expressar, se ela se sente bem nu, bem, porque haveremos de a julgar por tal?
    As pessoas no seu vídeo, tal como a minha colega Cláudia Silva disse, não eram figurantes, assim pudemos ver como realmente reagem as pessoas, todos olharam para ela, mal a avistaram, e com certeza deram um pensamento bastante preconceituoso, só para vermos que a liberdade não existe totalmente.
    Pois na verdade haverá sempre um grupo na humanidade, a julgar os nossos actos, a pensarem que os malucos sempre serão as pessoas que nunca serão iguais a eles, na forma de pensar, de vestir, etc.
    Concluindo, na minha opinião Erykah Badu é uma boa artista, e não é por ter a verdadeira coragem de mostrar a verdadeira realidade ás pessoas, que o deixará de ser.

    Patrícia Santos

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  9. Devo confessar que li este post no dia que foi publicado, por mero acaso.
    Hesitei comentar, achei demasiado confuso, isto porque eu vi o video referido no link e não senti que fosse qualquer demonstração de arte ou por ai além. Não penso que este clip deva ser dignificado como arte, para mim tratou-se apenas de uns minutos de choque de ideias e tentativas de comprensão.
    O que me realmente confunde, é como posso eu não dar revelância ou significância artistica a este clip, enquanto outros dão?

    Decidi deixar o meu comentário para depois, afinal de contas, não temos de ter sempre uma crítica ou argumento sobre tudo.

    Reflecti, durante muito tempo, e cheguei a uma extraordinária (ou não) conclusão. A arte não existe, apenas se quisermos.
    Após tantos anos de diferentes definições, encontramo-nos agora sem nenhuma, aliás, como podemos ainda afirmar que existe arte? Que argumentos válidos existem? Estes são tão abstractos quanto a própria arte, a sua ausência deixa nos desorientados com questões.

    O que há para dizer sobre o que não existe?

    André nº4 10ºE1

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