«Vamos desenhar uma
casa errada?!»
Numa
conversa animada e muito estimulante a propósito da leitura e da escrita, que muito
interesse despertou por parte de todos os participantes, o escritor português
Gonçalo M. Tavares partilhou com o auditório a sua conceção muito própria sobre
a importância dos atos de LER e de ESCREVER.
A
partir de um exercício de reprodução icónica daquilo que para cada um poderia
ser considerado como «a sua casa errada», ficou claro o poder subversivo da
Arte/ Leitura/Escrita: apesar de condicionada por modelos e padrões que pautam
o nosso conhecimento da realidade (normal), a representação final do que é uma
“casa errada” traduziu-se na criação de imagens únicas, diversas, que “desarrumaram”
totalmente aqueles modelos iniciais e remeteram para uma outra ”realidade” do
domínio da criatividade, da fantasia, do não-real.
Da
mesma forma que esta imagem pictórica da “casa errada” nos introduz na dimensão
do (ir) real, também a leitura e a escrita devem assentar na revelação /
construção de imagens e de redes de sentido que revolucionem, de forma
criativa, os códigos instituídos, para proporcionar novas leituras e novas
formas de representação da realidade, sem moralismos declarados.
Nesta perspetiva assumida por
Gonçalo M. Tavares, a Escrita e a Leitura estão em interação contínua - a
escrita dificilmente subsiste sem a leitura; a leitura sem a escrita não tem
fundamento: o bom escritor tem de ler o que os outros escreveram, para se
distanciar deles e não os repetir. O autor deve ser capaz de se distanciar da
leitura de que as suas obras são objeto, para não se deixar afetar por ela. É
nesta tensão permanente entre o poder da escrita e a influência da leitura que
se afirma a eficácia da criação literária / artística na procura do que é
único, diferente, capaz de subverter o que já está instituído, sem, contudo,
abdicar da sua intencionalidade comunicativa.
Experimentemos desenhar a «nossa
casa errada».
professora Teresa Lucas
professora Teresa Lucas
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