Antologia


Que povo é este que entre a fome, a doença e o analfabetismo inventa a meio do século XIX uma música para alimentar as almas, fortalecer os corações e manter vivo o pensamento?
 
 
Que povo é este que inventa uma música para aprender o sentido das palavras, conquistar acontecimentos, exorcizar a dor, festejar amores?

Que povo é este que preserva a palavra Saudade e Fado sabendo que não chegarão todas as palavras do mundo para lhe encontar uma definição?

Que canto é este que, mais do que fazer-se ouvir ou sentir, nos dá a ver a alegria ou a dor, o alcatrão ou as árvores, o sangue e a água, a terra e o céu, a noite e o dia?

Que canto é este sem princípio nem fim, transbordando de virtude e de pecado, mas libertando-se para além, de uma e do outro, que atirou para a eternidade um país aparentemente solitário?

Que canto é este que nos afasta o nariz do chão, nos liberta, nos amplia a visão e a escuta, nos coloca frente a frente inteiramente expostos, de igual para igual?

Que canto é este que converte crentes e ateus num universo de fé e esperança incontornáveis, que nos leva à fala direta com os habitantes do Paraíso?

Que canto é este? Chama-se Fado e nasceu em Portugal.


Aldina Duarte, junho 2003



A complição de 4 CD´s, The best of Fado um tesouro português, edição EMI- Valentim de Carvalho/Instituto Camões, está disponível da biblioteca.

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