A História é uma narrativa, sendo que as Histórias narradas pelo historiador serão tão mais convincentes quanto nelas ecoarem os mitos e as crenças culturais da sua época. O historiador deve, no entanto, realçar a importância do efeito da realidade na narrativa e simultaneamente da consciência da subjectividade.
Podemos pois afirmar que a História apenas existe nos discursos contemporâneos dos historiadores, os quais não podem ignorar as interpretações ou as tramas dos documentos.
O passado não é descoberto, mas criado e representado pelo historiador como texto.
Rui Ramos, de quem o CRE adquiriu a sua História de Portugal, insere-se neste registo historiográfico, assumindo que “(…) a História é uma revisão das lendas e do que nós julgamos saber. Nós julgamos saber algumas coisas, ouvimos, julgamos que aprendemos na escola, e a história documental, que é baseada nos documentos e na reflexão sobre os documentos, é uma revisão disso mesmo, é uma crítica e uma revisão. Quando me pergunta se sou um historiador revisionista, respondo: sou um historiador, logo um revisionista.”
A História de Portugal de Rui Ramos é um livro amplamente aclamado pelo rigor posto na “revisão” documental, apesar de ter dado origem a polémica alargada, nomeadamente devido à abordagem feita ao período histórico do Estado Novo. No entanto, deve-se realçar que uma das áreas de especialização de Rui Ramos é precisamente a história política da fase entre o fim das guerras liberais (1834) e a consolidação do Estado Novo (1936), período fundamental para se perceber os momentos mais importantes da história política portuguesa contemporânea. Só com essa longa perspectiva se consegue compreender, de facto, a Monarquia Constitucional, a República e o Estado Novo, e é esse conhecimento profundo que permite a Rui Ramos construir uma outra narrativa, uma outra interpretação.
Assumindo-se como intelectual interventivo e polémico, Rui Ramos refere “(…) é a irritação que algumas pessoas podem ter em ler algumas coisas que escrevo, mas isso tem de se perguntar a essas pessoas porque é que elas ficam tão incomodadas, à direita e à esquerda. Quando estou a dizer isto, obviamente não me estou a fazer de inocente, sei que digo determinadas coisas, que irão provocar mais, para pôr as pessoas a ler e a pensar (...)”, acrescentando noutro lado “(…) a História é um domínio académico onde é necessário afirmar originalidade, o que leva às interpretações próprias e diversas.”
Para Rui Ramos, “(…) este livro é uma proposta de síntese interpretativa da História de Portugal desde a idade média até aos nossos dias. Está construída como uma narrativa que combina a História politica, económica, social e cultural, de modo a dar uma visão integrada de cada época e momento histórico, ao mesmo tempo que integra Portugal no contexto da Europa e do mundo.”
professor João Gaspar
professor João Gaspar
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