Morreu o escritor João Aguiar.
Quem não recorda, com prazer, o humor e a ironia, quase sarcasmo, de obras como Eça agora, Os Herdeiros de Os Maias, Os Novos Mistérios de Sintra ou O Código d’ Avintes, que contaram com a sua participação e que fizeram as delícias da nossa leitura?
João Aguiar tornou-se, aos 40 anos, um escritor tardio. Deixou uma obra vasta e multifacetada, que marcou gerações pela cumplicidade que sempre soube estabelecer com o leitor.
Escrevia apenas sobre o que conhecia, com base num trabalho exaustivo de pesquisa e de investigação. Esta circunstância determinou, certamente, a sua preferência pelo romance histórico, com a escrita de obras sobre a história, como A Voz dos Deuses (1984), A Hora de Sertório (1994), A Encomendação das Almas (1995), Navegador Solitário (1996) e, mais recentemente, O Priorado do Cifrão (2008), que retractam as grandes questões da nossa identidade lusa, a nível individual e nacional, traduzindo as perplexidades do quotidiano, do tempo presente e passado.
Esta perspectiva crítica e dinâmica da História de Portugal, que o tornou apreciado pelo público mais adulto, não o afastou do público adolescente. Pelo contrário.
Escritor de textos para a “Rua Sésamo” e autor das colecções juvenis “O Bando dos Quatro” e “Pedro & Companhia” e de muitos outros textos para adolescentes, procurou sempre atrair as gerações mais novas, cativando a sua atenção, de modo a promover o gosto pela leitura e pela escrita, para que também elas pudessem aprender mais sobre a história.
Como testemunho pessoal desta atitude de abertura aos jovens, lembramos o debate animado que presenciámos, na nossa Biblioteca, em 2006, com alunos de Literatura Portuguesa. Nesse encontro, o escritor desvendou-se completamente, respondendo a questões dos jovens leitores suscitadas pela leitura das suas obras. Foram partilhadas e discutidas interpretações possíveis. Foi gratificante este diálogo e acreditamos que terá motivado para a leitura de outros textos do autor.
Cremos ser esta a missão do escritor. João Aguiar soube cumpri-la pelo testemunho que nos legou com a sua presença e através da sua escrita.
professora Teresa Lucas
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