Exposição de Matemática
Decorre entre 31 de Outubro e 9 de Novembro, nas instalações do CRE-BE, a exposição de matemática, Sempre Houve Problemas.
Nesta exposição, está
patente o carácter «lúdico na pedagogia medieval».
O primeiro livro de matemática
editado em Portugal, Tractado Darysmetica de Gaspar Nicolas (1519),
autor natural de Guimarães, tratava, para além de problemas diretamente
relacionados com transações comerciais, de problemas onde ressaía o caráter
lúdico, também presentes em obras de outros autores, nomeadamente no Tratado
da Arte de Arismética (1555), de Bento Fernandes.
O uso do lúdico como
instrumento pedagógico, ludus de escola, e escola - scholé - de
lazer, remonta há muitos séculos atrás. Carlos Magno (742-814), criou um local
de ensino no seu palácio, tendo entregue a sua direção ao filósofo e pedagogo
britânico, Alcuíno, que tinha como norma pedagógica «deve-se ensinar
divertindo», para «aguçar a inteligência». Os seus problemas estão
repletos de enigmas e brincadeiras como:
Um boi que está arando
todo o dia, quantas pegadas deixa ao fazer o último sulco?
Resposta: nenhuma, pois as pegadas do boi são apagadas pelo arado que
passa depois.
Ou em problemas ainda
hoje utilizados nas nossas escolas:
Um homem devia
passar, de uma margem a outra margem de um rio, um lobo, uma cabra e uma couve.
E não pôde encontrar outra embarcação a não ser uma que só comportava dois
entes de cada vez, e ele tinha recebido ordens de transportar ilesa, toda a
carga. Diga quem puder, como fez ele a travessia?
Resposta: Todos estavam na margem direita do rio. O homem leva primeiro a
cabra e deixa na margem esquerda. Volta para a margem direita e pega a couve e
volta para a margem esquerda. Deixa a couve e volta para a margem direita com a
cabra, deixando-a e voltando para a margem esquerda com o lobo. O lobo ficará com a couve na margem esquerda e o homem voltará a
pegar a cabra na margem direita.
Também o lúdico, como
atitude, recebe em São Tomás de Aquino (1225-1274) uma fundamentação
filosófica: «O brincar é necessário para a vida humana». Tal como é necessário
o repouso corporal para retemperar forças, também é preciso repousar a alma, o
que se consegue pela brincadeira.
Na viragem do século XV
para o século XVI começou a manifestar-se uma mudança na vida cultural
portuguesa, inserida no movimento do Renascimento Europeu, cujos fatores catalisadores
foram o classicismo por um lado e os descobrimentos por outro. É dentro deste
espírito que surge em 1519 o livro de Gaspar Nicolas, que foi também ele o
primeiro a introduzir o sistema de numeração árabe, isto é a numeração de
posição e o primeiro que ensinou as regras de cálculo do sistema referido.
Gaspar Nicolas não deduz
as soluções dos problemas que considera e não emprega a arte algébrica; enuncia-os,
indica as soluções e verifica-as, sem dizer o modo como as obteve. Um dos seus problemas
lúdicos e patente na nossa exposição é o seguinte:
“ Um homem foi de Lisboa
a Belém e levava dinheiro, não sabemos quanto, e na venda de Santos dobrou o
dinheiro que levava e gastou 10 e ficou-lhe ainda dinheiro e em Alcântara
dobrou o dinheiro que levava e gastou 10 e ficou-lhe ainda dinheiro, e em Belém
dobrou o dinheiro que levava e gastou 12 e ficaram-lhe 3 reais. Ora eu
pergunto: quanto dinheiro levava este homem?”
Tente resolvê-lo.
A solução é 9,5 reais.
Agradecemos
à associação de professores de matemática, que promove a cultura científica, a
oportunidade que nos deu em presentear os alunos da Leal da Câmara e da Padre
Alberto Neto com esta exposição.
professora Susana Tenreiro
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