Miguel Real




Provocar «o estalo mental» a propósito de “Paiaçu”


            No âmbito de uma iniciativa promovida pela BE-CRE, em articulação com o grupo disciplinar de Português, o escritor Miguel Real, especialista em cultura portuguesa, esteve presente na nossa escola para nos provocar «o estalo mental» sobre o Padre António Vieira.

            Miguel Real, o pseudónimo literário do professor de filosofia Luís Martins, partilhou com alunos e professores o seu vasto conhecimento acerca desta figura tão marcante do nosso século XVII e sempre presente nas várias vertentes que constituem a sua obra enquanto ficcionista (O sal da terra,  2008), ensaísta (Padre António Vieira e a cultura portuguesa, 2008) e autor de textos dramáticos (Vieira – O Céu na Terra, na comemoração do quarto centenário do nascimento de Padre A. Vieira e Vieira – O Sonho do Império).

            Conhecedor do percurso de Vieira pelas terras do Brasil, Miguel Real / Luís Martins pôde contar “estórias” autênticas sobre o orador e evocar locais, cores e sabores distantes que muito contribuíram para criar a empatia do auditório com esta figura tão distante do nosso tempo, mas simultaneamente tão próxima, pelos valores que encarnou.

            Numa época caracterizada pela injustiça social, pelo preconceito e pela prepotência dos mais fortes, o Padre António Vieira usou eficazmente o poder da Palavra para confrontar o Poder, denunciar os excessos cometidos no tratamento dos Negros, na exploração e escravização dos Índios e defender os Judeus e Cristãos-Novos. Através da leitura de O Sermão de Santo António aos Peixes, por exemplo, podemos perceber exatamente a crítica feita por Vieira aos colonos brancos de S. Luís do Maranhão e o modo como defendia os índios escravizados, que, por este facto, o tratavam por “Paiaçu” (Grande Pai em Tupi).

            Esta vertente humanista do “Paiaçu”, que perpassa nos seus sermões, mas que se manifesta também nas várias funções exercidas – missionário, diplomata, conselheiro político, escritor, sem esquecer a de profeta do Quinto Império – fez deste orador jesuíta mais carismático do seu tempo uma figura mal-amada pela corte, expulsa pelos colonos do Grão Pará e do Maranhão e perseguida e condenada pela Inquisição.

            A luta determinada e persistente do Padre António Vieira pelo respeito pela dignidade humana, que tantos dissabores e contratempos lhe causou, e a importância da sua obra no século XVII justificam «o estalo mental» nos nossos alunos, despertando-os para a leitura do sermão e sensibilizando-os para a dimensão que a vida e obra deste pregador assumem na história da cultura portuguesa.

Mais informação disponível sobre o Padre António Vieira na exposição patente na BE-CRE, durante o mês de janeiro.

professora Teresa Lucas


A documentação facultada na sessão encontra-se aqui.

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