Marcos viveu 12 anos entre lobos, mas os seus predadores foram humanos
Na década de 1950, um rapaz de sete anos ficou sozinho numa serra do Sul de Espanha. Cansado de maus-tratos, não tentou voltar para junto das pessoas. Acabou “adotado” por uma família de lobos, com quem cresceu até ser levado à força, aos 19 anos. Na dura reinserção na sociedade, foi enganado por muitos, mas também ajudado pelos que se fascinaram com a sua história. Atravessou meia Espanha até se fixar numa aldeia próxima de Portugal, sem nunca deixar de ser um menino-lobo.
A sua narrativa começa com a recordação do momento em que uma loba o encontrou a dormir com a ninhada dela no covil: “Foi o dia em que tive mais medo na minha vida, mas também foi o mais feliz. Acordou-me com uma bofetada. Tentei sair, mas à entrada estava o macho-alfa, com um cervo morto para alimentar as crias. Agachei-me contra a rocha e aleijei-me muito nas costas. A loba cortou a carne e um dos filhotes foi comer o seu bocado junto de mim, mas como eu tinha ainda mais fome do que medo, roubei-lhe o petisco. Veio a loba e… zás!, tirou-me a carne com a pata. Fiquei em lágrimas, a comer com os olhos. A loba atirou-me outro naco, mas já não me atrevi a tocar-lhe. Ela empurrou a comida para mim e eu peguei devagarinho. Devorei tudo e, com o rosto cheio de restos de carne e sangue, vi a loba aproximar-se. Pensei: deu-me de comer e agora come-me a mim. Ela abriu a boca, tirou a língua e limpou-me a cara. Depois, começou a roçar-se. Queria dar-me carinho, algo que eu precisava, pois nunca mo tinham dado. Abracei o lombo do animal e pousei a cabeça no seu pescoço peludo.
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