Fritz Lang
[Viena 1890- Califórnia 1976]
ENTRE A LUZ E AS
SOMBRAS
Na sequência da apresentação do filme Metrópolis (Berlim 1927),
do realizador austríaco Fritz Lang, aos alunos do 2º ano do Curso Profissional
de Técnico de Multimédia, o Clube de Cinema aceitou o desafio, lançado pela
disciplina de Design, Comunicação e Audiovisuais, de analisar excertos de
outros filmes do mesmo realizador que permitissem identificar características
marcantes da sua obra cinematográfica.
E assim aconteceu.
No dia 14 de fevereiro, os alunos acolheram, participativos,
na sua sala de aula, a professora Manuela Martins que procurou, em 90 minutos,
fazer uma retrospectiva da obra do realizador que, em 40 anos de atividade, realizou
cerca de 40 filmes, mudos e sonoros, predominantemente a preto e branco,
rodados em alemão, francês e inglês, atravessando todos os géneros: da ficção
científica ao western, do filme
policial negro às histórias de aventuras.
Apesar da intensa produção de filmes cujo argumento e
realização assina, bem como dos diferentes períodos de conturbação social e
política que marcam o seu impulso criador, a conflitualidade dos opostos é uma
presença permanente, por vezes, obsessiva, em toda a sua obra:
animalidade/humanidade, inocência/culpa, justiça/vingança, piedade/condenação.
Os excertos fílmicos selecionados procuraram evidenciar este
permanente confronto das forças do bem e do mal.
Primeiramente, a sequência inicial do filme que inaugura a
Trilogia Mabuse, O Doutor Mabuse (Berlim, 1922), que nos apresenta um cenário da
Bolsa ocupada por uma multidão frenética de homens de negócios dominados pela
máquina do tempo, simbolizada pelo grande relógio, e por Mabuse, que emerge da
multidão em plano contrapicado, o grande manipulador, que comanda e reduz à
condição de marionetas todos os que o rodeiam, evidenciando assim uma
formidável reprodução de uma sociedade onde o Mal se solta do seu corpo e se
torna tão virtual como as mudanças económicas.
Seguidamente, as cenas inicial e final de M –
Matou! (Berlim. 1931), o primeiro filme sonoro de Fritz Lang, inspirado
na história verídica de Perter Kurten ,
“o vampiro de Dusseldorf”, assassino em série preso em maio de 1930. Ambas as cenas constituem verdadeiras lições
de realização. A montagem alternada, ritmada, que faz crescer pouco a pouco o
sentimento de angústia. O recurso aos efeitos de luz e sombra, que ora mostram,
ora escondem. A mestria de moldar os atores à sua medida, como um escultor de
emoções. Duas cenas, porventura, dignas de integrarem o património
cinematográfico da humanidade.
Mas, como certamente o próprio realizador concordaria, o
tempo urge e vai sempre à frente, ficando muito por dizer e mostrar. Antes
assim, pelo que as últimas palavras são do realizador:
Todos os meus filmes alemães e os meus melhores filmes
norte-americanos falam do destino. Hoje, já não acredito no destino. Cada um
constrói o seu próprio destino. Não há um poder misterioso, não há deus que vos
trace o destino. Sois vós que levantais o vosso destino.
professora Manuela Martins
Clube de Cinema
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