Aula Aberta (3)
O
movimento das Luzes ou Iluminismo, como também ficou conhecido, foi um
movimento intelectual que surgiu na Europa no século XVIII – apropriadamente
designado por século das Luzes.
Mas porquê Luzes? A luz simboliza o conhecimento e tira o
Homem da escuridão que representa a ignorância. Ora um dos principais ideais
dos intelectuais iluministas era a valorização da educação e do conhecimento. A
educação era o instrumento necessário para que o Homem pudesse pensar por si
próprio e o conhecimento produzido racionalmente conduziria ao avanço da
ciência, sinónimo de Progresso para a sociedade. Para eles, iluministas, o
pensamento racional era o instrumento a utilizar para melhorar a sociedade e
alcançar a liberdade – que consideravam o principal direito natural do
individuo – e a felicidade, os governantes deviam organizar a sociedade de modo
a garantir o bem-estar das populações.
Estas ideias de conhecimento, liberdade, felicidade vinham
contra o contexto político, económico e social da época. De facto, estes
intelectuais iluministas, na sua maioria de origem burguesa, criticavam a forma
como a sociedade se organizava na altura, assente nas estruturas feudais e
respetivos privilégios. Era uma sociedade muito desigual em que prevaleciam os
direitos de nascimento – leis diferentes, acesso a certos cargos, só para
referir algumas situações. De igual forma, apontavam o dedo à enorme influência
da Igreja sobre a cultura e a sociedade, considerando-a responsável pela
intolerância religiosa, fanatismo e bloqueio da evolução do
conhecimento/racionalidade e do progresso científico, ao mesmo tempo que
criticavam o regime político absolutista em vigor na maioria dos Estados
europeus da época, em que os monarcas concentravam nas suas mãos todos os
poderes, intervindo em todos os setores e não admitindo críticas à sua atuação
(ausência de liberdade de expressão).
Os pensadores iluministas ao defenderem a separação de
poderes, o contrato social como base da Soberania Nacional, a separação entre o
Estado e a Igreja, a igualdade perante a lei e o direito à liberdade, à
segurança e ao bem-estar marcaram de tal forma a sua época que acabaram por
contribuir decisivamente para as mudanças políticas e sociais que tiveram lugar
na Europa e no continente americano a partir dos finais do século XVIII,
através das revoluções liberais.
Chegando a este ponto poderá pensar-se: pois, isto é tudo
muito bonito mas estas ideias já têm quase trezentos anos, os pensadores
iluministas já morreram todos e já não temos nada a ver com isto. Ou temos?
Cabe-nos agora refletir sobre o assunto. Se analisarmos com
atenção o mundo que nos rodeia chegaremos à conclusão que, afinal, as ideias
iluministas continuam bem atuais e a sua aplicação, ou não, afeta-nos
diariamente.
O direito que cada um tem à liberdade individual é
reconhecido por todos mas quantas vezes não surgem notícias na comunicação
social referindo-se a casos de escravatura (exploração pessoal e económica)
espalhados por esse mundo fora, muitos deles fomentados por empresas oriundas
de países ditos democráticos que se deslocalizam em busca do lucro fácil e da
desregulamentação do trabalho?
Garantir o direito dos cidadãos à segurança é uma das
principais responsabilidades dos Estados mas estão bem frescos na nossa memória
os vários atentados levados a cabo em várias regiões do globo e que têm abalado
as estruturas de funcionamento e as liberdades individuais nos países ditos
democráticos. Até onde estamos dispostos a abdicar das nossas liberdades
individuais para viver sem medo?
E o direito ao bem-estar? Deve ser garantido pelos governos
eleitos e que governam em representação dos povos e para os povos. Com as
crises cíclicas fomentadas pelo liberalismo económico não há bem-estar que
resista (educação, saúde, solidariedade social, habitação, lazer…). O número de
pobres aumenta e assiste-se a uma regressão nas condições de vida e de trabalho
das populações. Enquanto isso, os casos de corrupção entre os governantes vão
sendo postos a descoberto (como aquele que grassa no Brasil no mesmo instante
em que redijo estas linhas). Utilizam os cargos não para trabalharem em prol
das populações mas em prol de si próprios, familiares e amigos.
Enfim… coitados dos iluministas… se viajassem no tempo até
aos nossos dias iriam voltar a insistir na necessidade de modificar a sociedade
e a organização política...
professora Cecília Oliveira
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