Vargas Llosa (2)
Na civilização dos nossos dias é normal e quase obrigatório que a cozinha e a moda ocupem uma boa parte das secções dedicadas à cultura e que os «chefs» e os «costureiros» e «costureiras» tenham agora o protagonismo que antes tinham os cientistas, os compositores e os filósofos. Os fornos, os fogões e as passarelas confundem-se dentro das coordenadas culturais da época com os livros, os concertos, os laboratórios e as óperas, assim como as estrelas de televisão e os grandes futebolistas exercem sobre os costumes, os gostos e as modas a influência que antes tinham os professores, os pensadores e (mais antigamente) os teólogos. (...)
Não digo que esteja mal o ser assim. Digo, simplesmente, que é assim.
pág.35
Não digo que esteja mal o ser assim. Digo, simplesmente, que é assim.
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A banalização das artes e da literatura, o triunfo do jornalismo sensacionalista e a frivolidade da política são sintomas de um mal maior que afeta a sociedade contemporânea: a ideia temerária de converter em bem supremo a nossa natural propensão para nos divertirmos.
No passado, a cultura foi uma espécie de consciência que impedia o virar as costas à realidade. Agora, atua como mecanismo de distração e entretenimento. A figura do intelectual, que estruturou todo o século XX, desapareceu do debate público. Ainda que alguns assinem manifestos e participem em polémicas, o certo é que a sua repercussão na sociedade é mínima. Conscientes desta situação, muitos optaram pelo silêncio.
A Civilização do Espetáculo é uma duríssima radiografia do nosso tempo e da nossa cultura, pelo olhar inconformista de Mario Vargas Llosa.
Ibidem.
Podcast de Carlos Vaz Marques em O Livro do Dia, na TSF, aqui.
O livro está disponível na biblioteca.
Cota: 82-3 LLO
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